terça-feira, 10 de maio de 2016

O QUE SIGNIFICA ISSO QUE FALO QUANDO FALO?

     Imagine se nós possuíssemos dentro de nós imagens, memórias, sensações e impulsos sobre os quais não temos sequer a menor ideia de que existam ou o que sejam – vamos chamar a isso de vazio; não possuem nome. Imagine agora se fosse possível que ao ouvirmos uma palavra, uma frase, um comentário totalmente desconectado de nossos problemas, interesses ou atenção algum vazio fosse trazido à vida, ganhasse um nome e, de forma inesperada, a gente fosse totalmente surpreendido por uma nova ideia, sensação, uma imagem com nome e forma que antes não existia; ou achávamos que não existia.


        Agora imagine se quando trouxéssemos um vazio à vida por lhe darmos nome (falarmos) invocássemos um novo vazio que estaria prestes a ganhar nome, forma e vida.

       Bem, possuímos esses vazios e é exatamente assim que eles ganham vida nos surpreendendo e nos deixando, ás vezes, confusos. Os místicos querem achar que foi premunição, profecia, visita do além; os da moda dizem que são suas intuições amadurecendo ou está morando numa casa com um número certo, ou errado, de quartos ou a posição dos atros estão favoráveis ou não.

     Piadas à parte, Lacan foi o maior estudioso dessa estrutura inconsciente e, graças a ele, a psicanálise é hoje um instrumento valioso para a saúde psíquica do homem do século XXI.

      Segundo Lacan, esses “repentes” surpreendentes não apenas despertam novos vazios em nós, mas também nos outros; assim como aconteceu a primeira vez conosco. Essa estrutura de repetições e novas conexões se estrutura como uma linguagem. Não é à toa que somos constantemente assobrados por sensações e lembranças que parecem estranhas à nós. 

     Isso ajuda a por terra um monte de bobagens que se fala sobre terapias e saúde mental. Seguem algumas delas:

  - Essa ou aquela cor te ajuda e essa e aquela outra não são boas para você.

   As impressões quanto a cores na área da psique humana (não da calorimetria), assim como qualquer outra forma de estímulo, faz parte de um histórico individual no qual seu significado, seu impacto e sua simbologia só poderia ser descrita pelo próprio indivíduo.

 - Sonhar com isso: significa aquilo.


    O sonho é uma linguagem própria de quem sonha. Seu significado só poderia ser referido por ele próprio. Água, nesse contexto, não significa nada. Só pode ter algum significado  na estrutura  inconsciente de quem sonha. O que seria água para essa pessoa especificamente? Mas toda interpretação de sonho que não entende essa premissa usa as referências de quem interpreta: água é viagem (pra mim, então deve ser pra você), água é morte (no livro de interpretação de sonhos), água é vida (na holística) ...  mas não fazem a menor ideia do que é água para quem sonhou. Freud entendia isso e desenvolveu trabalhos maravilhosos sobre o “trabalho do sonho”.

- Se a pessoa usou essa ou aquela palavra ao falar de sí, significa que ela é isso ou aquilo.


      Essa é uma mazela muito empregada em recursos humanos e, infelizmente validada pela psicologia. João disse “Meu nome é João e eu busco mais conhecimento”. Oh! Ele disse “busco”, então... ele é inseguro quanto ao que sabe ou  isso... ou aquilo, então a vaga vai para Maria que disse “Eu sou Maria e tenho conhecimento”. Ela usou a palavra “tenho”. Achar que existe uma tabelinha com significados das palavras no inconsciente de todos uniformemente é tamanha ingenuidade que chega próximo da crença em horóscopo e numerologia. O que de fato  ela quer dizer quando disse o que disse? Mesmo que essa análise fosse do interesse do RH, não é uma descoberta fácil de ser feita e, com certeza, não é uma descoberta que se faz com tabelinhas.

- A função do analista é diminuir o sofrimento do paciente dando-lhe opções de soluções.


     Devido a necessidade que a psicologia teve ao longo de sua história em se firmar como uma ciência, ela se aproximou das ciências exatas: homens de branco em laboratórios fazendo descobertas que mudavam o rumo do mundo. Aì o psicólogo criou um clichê de si mesmo que é o do sujeito que se distancia de seus obejtos de estudo/tratamento como um físico se distancia de um pedaço de pedra. "O homem tem dificuldade em se desenvolver..etc..etc.. mas eu estou aqui, falando sobre o homem como se eu não fosse um". O analista tem lá ele mesmo seus vazios despertados pelos "repentes" do paciente. Ele não está em posição de determinar o que é bom ou ruim e nem de ver através do seu paciente. Acreditava-se no passado (por uma má compreensão dos ensinamentos de Freud pelas escolas estadunidenses de psicanálise) que seria essa a função do psicanalista: ouvir o paciente e lhe instruir sobre o que fazer. A função do analista (exceto em casos psicóticos), parafraseando Lacan, é mostrar que não tem  jeito. Que as frustrações, que a sensação de dor, sofrimento e infelicidade nos acompanharão sempre. Cabe ao analista possibilitar que o paciente possa ele mesmo encontrar meios de dizer “Ok. Nunca vou ter o que desejo, mas posso, se me esforçar,  ter aquilo que quero e de que preciso” e então entender, por si próprio, que parte do viver é suportar um certo nível de ansiedade. Encontrar suas próprias soluções para isso; ser o analista de sí mesmo.

- Se confidenciar, se abrir, com alguém tem o valor de uma psicoterapia.


     De fato, chorar as lamúria no ombro de um amigo no momento certo pode ser terapêutico, mas esta longe de ser um tratamento. “Um diálogo casual , um filme, um limite colocado pelos pais podem ser terapêuticos quando acontecem na hora certa com a pessoa disponível para compreendê-los. Estes acontecimentos não podem ser denominados psicoterapia, porque a relação entre as pessoas envolvidas não está combinada para tanto, não há enquadre instituído.” (HEGENBERG, Mauro. Psicoterapia Breve, Casapsi, 2010).


     Quando a ansiedade e mal-estar, independente da razão que atribuímos em primeira instância, nos causa sofrimento continuado, não buscamos tabelas, números, semântica, cores ou qualquer tipo de receita. É hora de transferir e atualizar os vazios, acorda-los, dar-lhes conteúdo e montar o próprio quebra-cabeça da vida que só, única e exclusivamente, a gente pode ver o sentido. O psicanalista é o profissional capacitado para isso.


Referências:

QUINET, Antônio. As 4+1 condições da análise, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009

HEGENBERG, Mauro. Psicoterapia Breve, Casapsi, 2010

JUAN-DAVID, Nasio. Como trabalha o psicanalista, Rio de Janeiro, Jorge Zahar,

1999.

LACAN, Jacques. O Simbólico, o imaginário e o Real,Rio de Janeiro, Jorge Zahar,

2005.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

INVEJA, GRATIDÃO E ANTROPOFAGIA




 
          A  inveja, se adequadamente observada e analisada, pode revelar  grande parte dos desejos e fantasias antropofágicas de um indivíduo.

         Não confunda com ciúmes.  Este  está na relação que temos com objetos dos quais queremos nos apropriar, queremos crer que pertencem somente a nós. A inveja é a inflicção de nossa ansiedade em objetos que nos atormentam por serem, em nossa fantasia, bons demais e portanto, queremos destruir, devorar, ingerir, incorporar.

          A natureza antropofágica da inveja acentua a dificuldade que temos em detectar, reconhecer e admitir em nós os objetos de nossa inveja.

         Melanie Klein, psicanalista inglesa que, através de seus estudos sobre a natureza esquizo-paranoide da criança em seus primeiros meses, traduz a inveja como a incapacidade de entender a dualidade dos objetos. Por exemplo, quando criancinhas, vemos o seio da mãe como um objeto parcial, ou seja, não há mãe, há o seio. Esse seio, ou par de seios, tanto nutrem e confortam quando estão ao alcance do bebê, como  frustram e atormentam quando o bebê precisa dele e ele não está lá. Essas alternâncias de aparições e desaparições  nutrem as fantasias do bebê  e o enchem de ansiedade.  Ele divide esse objeto em dois. Um ele ama o outro ele odeia.  Mas o que ele ama ele quer  também devorar, literalmente;  engolir, morder, pois está imbuído de inveja desse objeto mágico que pode tudo e ele, o bebê, não pode nada e depende da generosidade do mundo de adultos ao seu redor o qual ele não consegue compreender nada.


          Medo do seio que odiou e pode voltar para o atormentar, anseio por um seio que some quando ele mais precisa constituem, a grosso modo, as características esquizofrênicas e paranoides filogeneticamente presentes em todos nós. O ID (Freud) ou memória arcaica (Klein). Mas  se criado num ambiente no qual consiga reduzir essa ansiedade, a criança  pode entender, e quase sempre entende,  que não existe seio bom ou seio mau, existe apenas a mãe (ou aquele que assume essa posição). Ele entende que  a mãe tanto lhe estimula os sentimentos de afeto como o ódio e o desejo sádico de destruição. Ele se deprime e sofre como luto daquele objeto única e exclusivamente bom. Ele não existe. Não há prazer absoluto, não alegria plena nem uma mãe unicamente boa. O mundo é um lugar bem mais complexo do que imaginava e as relações com as pessoas não são baseadas simplesmente no que ele quer e no momento que ele quer. Esse luto, como qualquer luto, permite a reconstrução do objeto sepultado (por isso quando as pessoas morrem os demais tendem a realçar suas virtudes), ao mesmo tempo em que reconstrói a si mesmo. A essa passagem Klein chama de “posição depressiva”.

          Bem, isso ocorre se criado em um ambiente onde encontre vias para desviar o sadismo e a inveja. Caso não consiga passar para a “posição depressiva”, essa criança continuará sádica e invejosa. Um verdadeiro canibal de tudo o que deseja e repudia. Poderá se tornar um adulto que, entre outros sérios distúrbios, quer destruir tudo aquilo que não pode ter, compreender ou que, simplesmente, o desaponte persebendo-os como um  “seio mau” que deve ser eliminado, mas também sugado, absorvido.

          Isso pode explicar a forma incoerente com que as amizades, só para citar um exemplo, acabam. Basta que uma das partes da relação não consiga lidar com a ansiedade causada pela aparição de características desagradáveis na outra, para que a amizade acabe. Essa parte, a que cliva o mundo em bom e mau, não consegue entender que todos os objetos são bons e maus e que não podemos descarta-los quando não nos servem mais, ou quando outro mais atraente está ao alcance.

       A inveja, mesmo na criança que passou da posição ezquizo-paranóide e se tornou um adulto psiquicamente saudável, retorna como vestígios de uma fase primitiva da qual precisa, como  nos seus primeiros dias de vida, aprender a vencer, superar. Superar como?  Aprendendo  a suportar um certo nível de ansiedade sem direcionar sua ira imediatamente contra o objeto que lhe atormenta (amigo, companheiro de trabalho, esposa, marido, filho, grupo com opniões diferentes). Por isso Klein chama a esse processo de “posição” e não “fase”, como fazia Freud, pois entende que não se trata de uma fase do desenvolvimento biológico, mas um estado que pode voltar a qualquer momento na vida do indivíduo.

         E a gratidão? É o oposto da inveja.

         Quem sabe se fosse grata a esposa entenderia que o que lhe frustra e irrita no marido é exatamente aquilo que ela mais admira, gostaria de ser, ter.... o amigo não precisaria cortar a relação com o outro se, cheio de gratidão, pudesse  apreciar as  virtudes do outro  – mesmo aquelas que o fazem , em suas fantasias paranoides, se sentir inferior ou menosprezado – e suportar certa dose de ansiedade com as falhas e sentimentos desagradáveis que o outro lhe causa.

         Importante lembrar que no ambiente escolar tende a ser o local onde se recriam as fantasias sádicas não superados no lar. Não é segredo que quanto menos saudável psiq
uicamente for o aluno mais se voltará sadicamente contra o professor. E, acentuado pelas bases antropofágicas dessas fantasias, quanto melhor for o professor, maior será a voracidade desse ataque. Esse cenário pode se r reconstruido, nos grupos sociais, ambiente de trabalho, casamento e relação com os filhos. A psicanálise constitui o instrumento mais eficaz no tratamento de disturbios dessa natureza.

       Se a inveja revela as fantasias sádicas e antropofágicas, podemos  ouvir, de agora em diante, com bastante suspeita ao próximo relato que alguém vier fazer sobre o  porque foi “obrigado” a cortar (fatiar, preparar para o consumo, triturar) essa ou aquela pessoa de sua vida. E depois, não se esqueça, seja grato pelo relato.

    Um grupo que devora seu governo imbuidos da imaturidade que cega pela ansiedade e dá espaço para a manipulação, sofrerá com o enorme vazio que vem após a digestão: nova fome, mas sem mais nada de apetitoso para devorar. Devora-se a si próprio. 


Fontes:

NASIO, Juan D. Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan.  Rio de Janeiro: Zahar, 1995

ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998


ALVAREZ, Carlos M. Conversas Sobre Melanie Klein. www.youtube.com/watch?v=B-tKPqDfCvo : 2013 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

ONDE NASCE A AGRESSÃO?

      Um Ensaio Sobre as Possíveis Origens da Hostilidade
      Por: William Fernandes
 Antes de tudo é importante entendermos que o termo agressão tanto se relaciona diretamente com a violência quanto, de forma mais sutil, sugere medidas drásticas ou comportamentos obstinados como os de um líder religioso fundamentalista ou de um vendedor em busca do sucesso. Embora, segundo a Psicologia Social (David Meyers, 1999) o primeiro seja agressão e o segundo apenas uma afirmação, não podemos ignorar o fato de que em ambos os casos um indivíduo ou grupo direciona uma ofensiva a outra pessoa ou grupo; ou seja, em ambos encontramos a busca pela destruição do outro.
            Para ajudar essa compreensão os psicólogos decidiram agrupar as relações agressivas  em dois grupos:
            1 – Agressão Hostil: Seria aquela que surge da raiva e tem como intensão machucar, ferir, destruir;
            2 – Agressão Instrumental: É descrita como sendo “(...) aquela que visa fazer o mal apenas como um meio de alcançar um outro fim.” (Meyers, 1999, Pág. 208).
            O que podemos notar é que essa classificação é relativa. Vamos pegar o exemplo do pastor evangélico que incita seus fiéis a odiarem os praticantes de religiões afro-brasileiras e homossexuais; o fato dessa atitude promover ataques violentos, causando a destruição criminosa de terreiros de umbanda e espancamento e mesmo morte de centenas de gays não faz com que seus seguidores vejam esse discurso de ódio como sendo ruim: “É a vontade de deus”. Genocídios praticados pelos Estado Unidos da América  são chamados de “tentativas de paz” pelos nacionalistas e movimentos que promovem a institucionalização da tortura levam nomes cheios de eufemismos como a recente  “Marcha da família com deus”. Por essa ótica, a do grupo interno,  poderíamos dizer que a Agressão Instrumental é boa, pois o objetivo não seria a morte de ninguém e sim agradar a um deus, promover a ordem, defender o país; e a Hostil, essa que vemos no trânsito, nos assaltos e nas torcidas organizadas seria ruim por se servir apenas à causar o mal ao outro. Contudo, se um homem é visto espancando outro, e estes brigam por uma discussão sobre futebol que segundo essa classificação seria uma Agressão Hostil,  do ponto de vista de um torcedor violento agredir o torcedor do time rival seria apenas uma forma de promover a força e o sucesso do seu time; da mesma forma  um assaltante pode alegar que  apenas está compensado a injusta distribuição de riqueza do país. Ou seja, a agressão será sempre Instrumental, pois sempre visará algum tipo de satisfação e sempre será Hostil, pois visará sempre a destruição do outro.           

Algumas Teorias Sobre as Origens da Agressão
 Hereditariedade
            A Psiquiatria e a Psicologia Comportamental se apoiam na relação do homem como espécie em relação à outros animais para explicar a sua teoria da agressão.  A afirmação recorrente é: “Com a idade, as influências genéticas sobre a agressividade aumentam, e a influência familiar diminui (Miles & Carey, 1997).
Segundo essa teoria o comportamento agressivo é de origem genética, ou seja, país agressivos gerariam filhos agressivos. Para essa teoria usam   em testes com camundongos em laboratórios (Kirsti Lagerpetz, 1979, Apu  Meyers, 2002, pg. 209). Separaram camundongos agressivos dos demais e mantiveram a reprodução por 26 gerações. Conseguiram uma prole de camundongos ferozes.
            Ainda no âmbito laboratorial a influência genética sob a agressão foi estuda observando animais criados para briga; como cães e galos.
            Fora do laboratório, mas muita mais timidamente, observou-se o desenvolvimentos de humanos gêmeos (Raine, 1993). Gêmeos idênticos filhos de criminosos apresentam 5 vezes mais registros de criminais do que gêmeos fraternos.
Estes testes foram apresentados e reconhecidos pela American Psychological Association.

 Influências Bioquímicas
            Na tentativa de explicar o comportamento agressivo estudiosos do comportamento e organismo humano apontam para o desequilíbrio químico como o maior responsável para esse fato. Usam para isso resultados de laboratório e boletins de ocorrência policial (Bushman & Cooper, 19902)
            Em laboratórios observaram que pessoas alcoolizadas aplicam choques mais violentas em experimentos do que os não alcoolizados.  (Abbey e outros, 1996, Apu  Meyers, 2002, pg. 209). Fora do laboratório observaram, para validar essa teoria, que 50% dos crimes mais violentos como estupro e homicídio, são cometido por pessoas embriagadas. Afirmam que um  homem que agride sua esposa depois de abandonar o alcoolismo, abandona também o comportamento violento (Murphy & O´Farrel, Apu  Meyers, 2002, pg. 209).
            Além do álcool os hormônios seriam também responsáveis pela origem dos comportamentos agressivos no ser humano. O Homem teria comportamentos mais agressivos que as mulheres por serem regidos pela Testosterona (Dabbs & outros, Apu  Meyers, 2002, pg. 209). Dessa forma os homens ficariam menos agressivos depois dos 25 anos, pois o nível de testosterona estariam mais baixos.
            O baixo nível de serotonina, o neurotransmissor que costuma ser baixo nas pessoas deprimidas, é considerado um outro responsável pelo comportamento agressivo. Pessoas situadas em baixa escala socioeconômica também tendem a ter baixos níveis de serotonina (Bernhardt, 1997, Apu  Meyers, 2002, pg. 2010). Segundo os Psicólogos Evolucionistas essa seria a forma que a natureza usa para prepara-los para uma defesa e lidar com situações de risco. (Meyers, pg. 210).

Influências Neurológicas
Essa frágil teoria se baseia completamente em estudos  experimentos realizados em laboratórios. Segundo Meyers (2002), pesquisadores ativaram áreas do cérebros supostamente responsáveis pelo comportamento agressivo e, quando estimuladas, causavam uma reação agressiva no animal experimentado.
            Em humanos testaram com a colocação de eletrodos nas áreas do cérebros referidas e ativa-los, mesmo sem causar dor, causavam comportamentos violentos (Moyer, 1976, Apu  Meyers, 2002, pg. 208).
            Embora fique claro que manipulações neurológicas, desequilíbrio hormonal e mesmo influências genéticas  possam influenciar o comportamento hostil não fica evidente serem estas ou mesmo alguma destas, a origem da agressão.
            Algumas dessas teorias, de fato, provam a relação de seus experimentos e aumento da agressividade ou, no caso da Teoria da Hereditariedade, que filhos

Freud e as Origens da Agressão
            É simples: “Acho que se deve levar em conta o fato de estarem presentes em todos os homens tendências destrutivas e, portanto, antissociais e anticulturais, e que, num grande número de pessoas, essas tendências são suficientemente fortes para determinar o comportamento delas na sociedade humana.” (Freud, 1928, P. 2).
            Freud nos apresenta um homem que se circunscreve socialmente e consigo mesmo segundo pulsões inconscientes que estão sempre buscando um alívio, um prazer imediato nunca satisfeito. “Todavia, observemos que o estado de tensão desprazeroso e penoso não é outra coisa senão a chama vital de nossa atividade mental; desprazer e tensão permanecem para sempre sinônimos de vida.” (Freud, 1928, P. 20, Parágrafo 1º).

Mas de onde vem essa necessidade de encontrar o prazer que  gera esse desprazer? Freud nos fala sobre o instinto. Sem interesse em discorrer aqui detalhadamente sobre o aparelho psíquico e o instinto podemos citar apenas que existe, segundo Freud, a Pulsão de Vida e a Pulsão de Morte. Ambos buscam o prazer ou o encontro de um estado anterior; a primeira é descrita por Freud como “ (...) a ligação libidinal, isto é, o atamento dos laços, por intermédio da libido, entre nosso psiquismo, nosso corpo, os seres e as coisas” (Idem, P. 60, Parágrafo 1º)., a segunda “(...) a tendência do ser vivo a encontrar a calma da morte, o repouso e o silêncio ...” (Idem, P. 60, Parágrafo 1º).

Ou seja, o homem está sempre na luta contra este estado de desprazer. Mas de que maneira esse desprazer gera o comportamento agressivo? Ora, nossos relacionamentos com os  semelhantes estão sempre  perturbados pela existência de desejos agressivos em nós que supomos haver neles; “A existência da inclinação para a agressão que podemos detectar em nós mesmos e supor com justiça que ela está presente nos outros, constitui o fator que perturba nossos relacionamentos com o nosso próximo e força a civilização a um tão elevado de energia” (Freud, 1930, P. 35, Parágrafo 2º).

Segundo Freud não há como conter completamente os instintos agressivos do homem. O que se busca é um controle civilizatório que tenta controlar as manifestações agressivas; “A civilização tem de utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites para os instintos agressivos do homem e manter suas manifestações sob controle por formações psíquicas reativas” (Freud, 1930, P. 45, Parágrafo 3º). Talvez isso explique a constante formação de grupos ideológicos que dominam o pensamento de nações; a exemplo temos a religião que tem se auto estabelecida como o maior instrumento para conter “o mal” que há no homem.

Freud mantém a religião no campo das ilusões; necessária para o homem primitivo na busca por dominar as forças da natureza; confere à ela grande parte do mal estar da civilização: “(...) o homem transforma as forças da natureza não simplesmente em pessoas com quem pode associar-se como com seus iguais (...) mas lhes concede caráter de um pai. Transformando-as em deuses, seguindo nisso, não apenas um protótipo  infantil, mas um protótipo filogenético” (Freud, 1928, P. 48, Parágrafo 3º). Além disso não vê nela a solução para a contenção da agressividade: “É sempre possível unir um considerável número de pessoas no amor, enquanto sobrarem outras para receberem as manifestações da sua agressividade” (Idem, P. 50, Parágrafo 1º). Freud ainda realça o efeito da segregação ideológica-dogmática  encontrada na religião exemplificada na crença cristã: “Quando, outrora, o apóstolo Paulo postulou o amor universal entre os homens como fundamento de sua comunidade cristã, um extrema intolerância por parte da cristandade para com os que permaneceram fora dela tornou-se um consequência inevitável.”.

Outra tentativa de conter a agressividade é o dogma político. Como exemplo temos o comunismo propõe a abolição da propriedade privada e que com isso o homem seria menos hostil: “(...) como as necessidades de todos seriam satisfeitas, ninguém teria razão alguma para encarar outrem como inimigo” (Idem, P. 33, Parágrafo 5º).  Mas Freud nos lembra que a agressividade não foi criada com a propriedade. “Reinou quase sem limites nos tempos primitivos quando a propriedade era ainda muito escassa, e já se apresenta no quarto das crianças, quase antes que a propriedade tenha abandonado a sua forma anal e primária” (Idem, P.51, Parágrafo 1º).

Em suma, Freud nivela a agressividade com os instintos libidinais e vê a repressão destes como uma consequência dos benefícios que obtemos da civilização: “Se a civilização impõe sacrifício tão grande, não apenas à sexualidade do homem, mas também à sua agressividade, podemos compreender melhor porque lhe é difícil ser feliz nessa civilização” (Idem, P. 52, Parágrafo, 2º).  Freud entende que trocamos parte de nossa felicidade por segurança – Não matarás e não desejará a mulher do próximo – resumem a tensão pungente do homem que, por reconhecermos em nós o impulso agressivo e uma força libidinal muito grande, entendemos que é melhor o sacrifício imposto que inclui restringir nossa liberdade instintiva em troca de uma ideal de segurança, pois subentendemos que assim farão nossos semelhantes.

Evidentemente não é fácil aos homens abandonar a satisfação dessa inclinação para a agressão. Sem ela, eles não se sentem confortáveis. A vantagem que um grupo cultural comparativamente pequeno, oferece, concedendo a esse instinto um escoadouro sob a forma de hostilidade contra intrusos, não é nada desprezível” (Idem, P. 45. Parágrafo, 2º ).

Conclusão
            Parece que diversas teorias sobre as origens da agressão mostram como ela pode ser provocada, estimulada e até mesmo laboratorialmente controlada; demonstram outras fontes que influenciam o homem ao ponto de provocar um comportamento hostil, mas parecem fracassar ao  explicar a natureza agressiva presente no ser humano em qualquer tempo ou circunstância.  Sendo assim, elaborar estratégias que visam uma sociedade menos destrutiva, ou seja, menos agressiva, com base em teorias que provam apenas certas influencias sobre o comportamento em determinadas circunstâncias, será apenas manipular essas mesmas influências e não atingem o objetivo a que se propõem.
            Se ideologias políticas, se a ilusão religiosa, nem a manipulação do organismo humano através de controle hormonal, genético ou do neurológico conseguiram até agora gerar uma sociedade mais pacífica, menos neurótica e menos autodestrutiva qual é a solução?
            “O elemento por trás disso tudo, elemento que as pessoas estão tão dispostas a repudiar, é que os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos  deve-se levar em conta um poderosa quota de agressividade” (Idem, P. 60, Parágrafo 3º ).  
 A psicanálise parece mostrar um caminho, senão simples, seguro quanto suas intenções, para escoar o mal-estar de viver fazendo parte de uma civilização. Pode mostrar as compensações pelas suas opressões que uma vez desvendas podem trazer vantagens. As vantagens são as satisfações substitutivas.
Se a violência é o resultado de um estado de coisas que Freud chama de “pobreza psicológica dos grupos” o psicoterapeuta deve ter como missão fornecer ao paciente maneiras de encontrar essas compensações, tal qual são das artes. Concluo com a citação de Freud sobre as artes:
“(...) há muito tempo, a arte oferece satisfações substitutivas para as mais antigas e mais profundas sentidas renúncias culturais, e, por esse motivo, ela serve, como nenhuma outra coisa, para reconciliar o homem com os sacrifícios que tem de fazer em benefício da civilização” (Freud,1928, P. 15, Parágrafo 3º).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS





MYERS, David G. Psicologia Social.  Rio de Janeiro: LTC, 2000

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização, Londres: Hogarth Press,1928

FREUD, Sigmund. O Futura de uma Ilusão, Londres: Hogarth Press,1930


NASIO, Juan D. O Prazer de ler Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999 

A Descoberta do Inconsciente Brasileiro

Pressupostos para uma revolução social e cultural no Brasil

    Por: William Fernandes
 




        Quando a máxima Platônica que explica o saber como sendo a transcendência da razão   num discurso universal (Garcia-Rosa)  se tornou a base para a filosofia ocidental, não previa que  as descobertas Freudianas fossem justamente inverter os papeis atribuídos para a razão (Consciente) e provar que é no Inconsciente que reside a subjetividade que define o indivíduo. Assim, podemos dizer que é o desejo que nos torna humanos; “(...) é negando a Natureza, sobrepondo à vida um valor maior do que ela, que o indivíduo se constitui como humano.” (Freud e o Inconsciente, p. 16).  Contudo, não basta  que surja o desejo, é necessário que esse desejo se volte para um objeto não natural e então a pessoa passa de um “sentimento de si” para uma “consciência de si mesmo”.

      É por esse desejo, pela vontade de alcançar valores não naturais que acredito poder haver uma revolução sociocultural no Brasil.

       Historicamente podemos dizer que oque prevaleceu nas colônias de extração que formaram as bases para o que viria ser a nação como a conhecemos hoje, foi vencer a natureza, se adaptar ou destruí-la e dela “extrair”: abrigo, comida, riqueza. Essa situação difere bastante das colônias que se fixaram nas regiões ao norte da América; estavam motivados a recriar seus lares como em suas terras de origem: o desejo era nostálgico, romântico. Era maior do que os desafios naturais que precisavam vencer.

       Uma mudança radical nas motivações que determinam os desejos do brasileiro pode revolucionar toda uma forma de fazer e de querer e,  portando,  mudar  o que se faz e o que se quer. Estimular o criar, mas não só para vender; o trabalho, mas não só para pagar contas; o estudar, mas não só para “passar” ou “pegar melhor cargo”. Não ter medo e nem vergonha de ser Macunaíma  e desenvolver um olhar crítico sobre Zé Carioca e quem sabe então substituir a ilusão da “brasileiridade alegre e brejeira” que valida mitos e estereótipos, pela descoberta de uma identidade  própria e real.


          O Brasil ainda não se curou do trauma de seu nascimento. Ainda quer extrair; consumir; se proteger e atacar, quer “se dar bem” e negar quem é. Vem da mistura da senzala e age com a arrogância do Senhor de Engenho. É possível que com o despertar de desejos subjetivos possa surgir uma nação com mais autoestima, menos corrupta e, portanto, menos violenta.